A Rede de Sementes do Cerrado (RSC) marcou presença no Seminário sobre Meio Ambiente, Migração e Temas Transversais, uma iniciativa promovida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) em parceria com a Agência das Nações Unidas para as Migrações (OIM Brasil). O evento, que aconteceu na última segunda-feira, 18, tem como propósito explorar as conexões entre o meio ambiente e a mobilidade humana, com especial atenção às questões que perpassam o tema, tais como desigualdade racial, direitos dos povos indígenas e das comunidades tradicionais. Presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, destacou a importância da inclusão social no Programa de conversão de multas, enfatizando o diálogo com temas ambientais e sua internalização nas políticas públicas.
Presidente da RSC, Camila Motta enfatizou a expectativa em relação a execução do programa, o trabalho desenvolvido pelo Redário, uma organização que nasceu da união de várias redes de sementes, bem como as atividades de Articulação pela Restauração do Cerrado (Araticum). “Estamos esperando há quatro, cinco anos, mas não esperamos parados. A restauração tem alavancado todo esse mercado de sementes e na Rede de Sementes do Cerrado desenvolvemos estas ações voltadas à cadeia de restauração ecológica, em especial a produção de sementes nativas de base comunitária. A gente trabalha com a inclusão dos povos tradicionais do Cerrado em toda cadeia, e não é só quem coleta, é quem faz a restauração em seus próprios territórios. Entendemos que sem as pessoas nesse processo, não há razão para existir”.
Para a gestora, a restauração é um processo lento que exige acompanhamento. “Queremos trabalhar a restauração, mas não queremos plantar uma muda, tirar uma foto e ir embora, a gente quer que essa restauração seja feita. Hoje a agropecuária é a principal ameaça ao bioma Cerrado. O Cerrado não é só o segundo maior bioma do Brasil, como é berço. Sem o Cerrado e sem a Amazônia a gente perde todas as funções ecossistêmicas do país”, mencionou. Cíntia de Oliveira Silva Carvalho, presidente da Associação de Coletores Cerrado de Pé (ACP), abordou que atualmente 240 famílias integram o grupo e que destes, 70% são mulheres. “Nós mulheres não queremos ser melhores que os homens. Este trabalho contribui para a geração de renda extra às famílias e quando a família ganha, a sociedade é beneficiada. Temos exemplos de pessoas que conquistaram sua casa própria com o apoio desta atividade”. Cíntia Carvalho relata que além da renda extra há uma preocupação dos coletores em conservar o Cerrado.
Diretor de Restauração da ACP, Claudomiro Cortes, salientou a importância de considerar as diferentes fitofisionomias do bioma Cerrado na restauração. “Quando se fala em restauração do Cerrado precisamos levar em consideração que o bioma é composto por capins, árvores e arbustos. Os capins fazem o papel de esponja, pois retém a água da chuva. As raízes das árvores e arbustos contribuem na infiltração desta água no solo. Além disso, hoje a restauração gera renda às comunidades tradicionais e principalmente conserva o bioma, na região da Chapada dos Veadeiros, local onde são desenvolvidas as atividades. Nossa meta é plantar sementes na quantidade de estrelas no céu”, finalizou.
Reconhecida por seu engajamento na conservação do bioma Cerrado, a RSC assume um papel crucial no debate sobre as implicações ambientais relacionadas à mobilidade humana. Com sua abordagem inclusiva, a organização busca não apenas compreender as dinâmicas entre o ambiente e a sociedade, mas também promover a sensibilização e ações concretas para a proteção dos ecossistemas e a promoção de justiça social. O evento reuniu especialistas, ativistas e organizações comprometidas com a causa ambiental e social.
Publicado em 21/09/2023