Popularmente conhecido como “Pinheiros”, é muito comum os frequentadores da Floresta Nacional de Brasília (Flona) se depararem com algumas árvores do gênero “Pinus sp”, no local. O que poucos sabem, no entanto, é que a espécie não é nativa do Cerrado e por isso é considerada uma Exótica Invasora (EEI). As invasoras são todas aquelas que quando introduzidas em outros territórios conseguem adaptar-se, colonizar o ambiente e formar novas populações, e causam grandes impactos aos ecossistemas locais.
Os pinheiros, por exemplo, depositam suas folhas no solo, as quais se decompõe muito lentamente, criando uma camada espessa e impedindo as plantas nativas de crescerem. Sem plantas nativas também não há animais nativos. Além disso, os pinheiros reduzem a produção de água nos córregos, impactando diretamente nossa vida, pois as nascentes da Flona contribuem para a barragem do Descoberto que abastece a maior parte dos moradores do DF.
Com o objetivo de reduzir a colonização dessas espécies nas áreas nativas na Unidade de Conservação (UC) e permitir que a Flora nativa se espalhe nos locais atualmente colonizados pelos Pinus, a equipe técnica da Rede de Sementes do Cerrado (RSC), em parceria com diversas instituições, desenvolve o projeto Restaura Flona. A iniciativa visa, com ações de restauração, contribuir com biodiversidade vegetal do Cerrado e consequentemente a produção de água. Técnico em Restauração Ecológica no Cerrado e representante da Tikré, parceira do projeto, Gustavo Paiva explicou que a retirada dos pinus acontecerá em polígono de 50 hectares de área, onde encontra-se a maior concentração das espécies. “O trabalho será executado entre os campos de murundus e o Cerrado típico, pois esse talhão vem expandido e tenda a recobrir a totalidade dessas duas áreas”, pontuou.
Gustavo Paiva detalhou ainda que a execução do projeto acontece em várias etapas. “Existe todo um estudo e ações que serão realizadas a médio e longo prazo. Dentre elas, incluem a seleção das áreas, já executado, o planejamento inicial e a construção de protocolos de segurança e ação. Em apoio à equipe de brigada da Flona, já foi realizado as primeiras etapas do Manejo Integrado do Fogo (MIF), que nesse caso é uma queima controlada da área para reduzir o risco de grandes incêndios durante o auge da seca. Para a próxima etapa está sendo realizada capacitação com todos os profissionais que atuarão nas ações de corte raso, desgalhamento e enleiramento da área. Para a destinação da madeira que será retirada da área, a equipe gestora da Flona realizou uma consulta pública para decidir qual a melhor procedência da madeira cortada.
Após a retirada dos pinheiros invasores, será feito o preparo do terreno para facilitar a regeneração natural das plantas nativas e o plantio por semeadura direta de espécies nativas de cobertura, com arbustivas e arbóreas de potencial extrativista não madeireiro.
Sobre o projeto
O projeto “Restauração Inclusiva do Cerrado”, financiado pela Cargill para restaurar 100 hectares de Cerrado por meio de plantio direto de sementes nativas, visa não só promover a restauração ecológica das áreas escolhidas, como promover benefícios sociais para as comunidades locais, as quais podem atuar desde a coleta de sementes até a realização de ações buscando alavancar a implementação de políticas públicas e aumentar as iniciativas de restauração do Cerrado. A restauração irá ocorrer em quatro áreas distintas de Cerrado, sendo 10 hectares no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO), por meio da Associação Cerrado de Pé; Cinco hectares na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Nascentes Geraizeiras (MG), por meio da Rede Restauradores da RDS Nascentes Geraizeiras; 35 hectares na Bacia do Rio Peruaçu/APA Cavernas do Peruaçu (MG) através da Cooperativa dos Agricultores Familiares e Extrativistas do Vale do Peruaçu e 50 hectares na Floresta Nacional de Brasília.
Inserida na Área de Proteção Ambiental (APA), a Flona de Brasília tem grande importância ambiental e contribui de forma expressiva para a conservação dos recursos hídricos da região, pois protege grande parte das nascentes que abastecem o Reservatório do Descoberto assim como nascentes e trechos de córregos da Bacia do Paranoá. Neste contexto, a Flona de Brasília, por meio da Associação dos Produtores Agroecológicos do Alto São Bartolomeu (Aprospera), e a Tikré Brasil – Soluções Ambientais – Eireli, irão promover a restauração de 50 hectares de áreas dentro de seu limite, com a retirada dos pinheiros que estão inseridos da poligonal de restauração.
Publicado em 04/04/2022